Um debate intenso no Brasil sobre a natureza fascista do filme Tropa de elite (2007), de Jos Padilha, paradoxalmente impulsionou seu sucesso, apesar dessa crtica ideolgica ter ignorado as mudanas estticas ao longo do projeto. Este artigo analisa o papel, em grande medida negligenciado, que o livro Elite da tropa (2006), de coautoria do antroplogo Luiz Eduardo Soares, exerceu na criao e recepo do filme. O fato de o longa-metragem ter sido lanado depois do livro provocou em jornalistas, publicitrios e acadmicos a errnea pressuposio de que aquele se tratava de uma adaptao do jornalismo literrio de Soares. Embora o livro e o filme tenham envolvido colaborao, os dois so em realidade projetos independentes, cada um fazendo parte de uma trilogia distinta de Soares e Padilha sobre violncia urbana. Aps traar a evoluo de atitudes relativas adaptao literria e representao da violncia desde o cinema novo at os filmes da retomada, analiso tanto o livro quanto o filme como processos, ao destacar suas origens, produo e recepo com o intuito de estabelecer um enquadramento comparativo no qual os trabalhos sejam entendidos como adaptaes temticas. Enquanto ambos os textos aspiram crtica social ao ressaltar um narrador eticamente ambguo, o livro de Soares, em ltima instncia, oferece uma anlise mais detalhada sobre polticas raciais e, dessa forma, traa um itinerrio de reavaliao do incompreendido sucesso de bilheteria de Padilha.